Quando pensamos em comunicar, logo nos vem à ideia o ato de falar. No entanto, com o perfume, essa comunicação acontece no campo não verbal, pois ele se torna um emissor silencioso de personalidade. O conceito de “signature scent” ou assinatura pessoal olfativa ultrapassa o simples uso de uma fragrância. Trata-se da escolha de um perfume específico que passa a fazer parte da identidade do usuário, tornando-se uma memória olfativa constante na mente de amigos, colegas e familiares. Escolher e manter por décadas um perfume-assinatura é um processo lento, que exige experimentar e compreender profundamente nossa personalidade e nossa pele.
Autoconhecimento e estilo de vida
O ponto inicial para a criação de uma assinatura olfativa é o autoconhecimento. Uma assinatura eficaz deve refletir personalidade, estilo de vida e também nossas aspirações mais profundas.
Fragrâncias de assinatura devem ser fáceis de usar e, para isso, precisam ser versáteis o suficiente para se adequar à maioria dos ambientes que frequentamos. Uma pessoa que trabalha em um escritório fechado pode escolher um floral fresco e radiante ou um amadeirado mais discreto. Já quem possui uma vida noturna mais ativa ou vive em regiões de clima frio pode preferir perfumes ambarados e especiados com maior intensidade.
Outro ponto importante nessa jornada é compreender as famílias olfativas. Uma pessoa com espírito aventureiro pode se inclinar para composições das famílias fougère ou cítricas. Já para personalidades clássicas e sofisticadas, perfumes das famílias chypre ou amadeirada são excelentes escolhas. Para quem busca algo mais sensual e moderno, as famílias Oriental e Gourmand são ótimas indicações. A fragrância de assinatura deve fazer sentido com toda a imagem pessoal.
Pele, percepção e constância
O perfume-assinatura é essencialmente aquele que você usa para si mesmo, por isso deve ser uma fonte constante de conforto e autoconfiança. Caso seja necessário reaplicá-lo com frequência por não o perceber mais, trata-se de um fenômeno conhecido como acomodação olfativa, no qual o sistema olfativo se adapta de forma positiva ao perfume, permitindo sua integração ao cheiro natural da pele. O segredo não é encontrar o perfume “perfeito” que agrada a todos, mas sim aquele que lhe agrada profundamente e funciona de maneira consistente com sua química corporal.
O grande desafio ao escolher um “signature scent” é a variabilidade da química individual, que altera a forma como as moléculas se comportam em cada pessoa. Jamais escolha um perfume baseado apenas nas notas de saída, o cheiro dos primeiros minutos. O perfume deve ser testado na pele e acompanhado ao longo de um dia inteiro, para que somente assim seja possível identificar como as notas de coração e base se manifestam e qual cheiro realmente se tornará sua marca pessoal.
Mesmo que a escolha de um “signature scent” seja pessoal, receber feedback de pessoas do convívio é bastante útil. Pergunte sobre a intensidade, se a fragrância parece combinar com sua personalidade e se transmite a imagem desejada. Afinal, a assinatura olfativa é também a forma como você será lembrado.
A assinatura como identidade viva
Manter uma assinatura não significa usar exatamente o mesmo perfume para sempre. As condições ambientais influenciam muito essa constância. Um Oriental intenso pode ser forte e sufocante no verão, enquanto um Cítrico leve pode ser imperceptível no outono e inverno. Muitas pessoas adotam o chamado “guarda-roupa olfativo”, com variações da mesma família ou nota central. Por exemplo, um amadeirado intenso para o inverno e uma versão Eau Fraîche para o verão, mantendo a mesma base olfativa como assinatura.
Ao se comprometer com um “signature scent”, o indivíduo investe em uma forma poderosa de memória olfativa. O perfume deixa de ser apenas um acessório ou item de higiene pessoal e se torna um elemento fundamental da identidade, capaz de evocar presença e personalidade muito depois de alguém ter saído de uma sala.
Escrito por Ítalo Pereira – Influencer e expert em perfumaria




