O que são notas animálicas e como elas influenciam a sensação e desempenho de um perfume

 

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Desde os tempos mais remotos, os seres humanos descobriram que folhas, cascas, resinas e ervas, ao serem aquecidas ou queimadas, liberavam odores agradáveis. Fascinados por esses cheiros, passamos a buscar maneiras de capturá-los e conservá-los, seja para fins rituais, medicinais ou estéticos.

Inicialmente, as fumaças perfumadas oriundas da queima desses materiais — como o olíbano e a mirra — eram utilizadas em cerimônias religiosas e oferecidas às divindades como forma de veneração e purificação. Essa prática foi comum em várias civilizações antigas, como a egípcia, a mesopotâmica, a indiana e a chinesa.

Com o tempo, as primeiras sociedades passaram a aplicar fragrâncias diretamente sobre a pele, tanto em ritos espirituais quanto como símbolo de status, higiene e proteção. No Egito Antigo, por exemplo, óleos perfumados eram amplamente usados por nobres e sacerdotes, refletindo não apenas devoção religiosa, mas também refinamento cultural.

Séculos depois, já em períodos posteriores da Antiguidade e sobretudo na Idade Média e no Renascimento, as chamadas notas animálicas começaram a ser introduzidas e valorizadas na arte da perfumaria. Esses ingredientes conferiam profundidade e fixação às fragrâncias, marcando o início de uma nova era olfativa.

Quais são e de onde vêm as notas animálicas?

Na natureza, muitos animais liberam odores característicos como forma de comunicação — seja para atrair parceiros sexuais durante o acasalamento, marcar território ou afastar predadores.

Em perfumaria, algumas dessas secreções inspiraram o que chamamos de notas animálicas. Essas notas se destacam por seu cheiro marcante e profundamente sensual, muitas vezes descrito como quente, úmido, salgado, untuoso, e em alguns casos, fecal ou urináceo — características que conferem profundidade e fixação às fragrâncias, além de um toque carnal e instintivo.

As principais matérias-primas animálicas utilizadas tradicionalmente na perfumaria são:

  • Castóreo: secreção oleosa produzida por glândulas próximas ao ânus do castor (espécies Castor fiber e Castor canadensis), com notas de couro, tabaco e animalidade.

     

  • Civeta: substância extraída das glândulas perineais da civeta africana (Civettictis civetta), um mamífero da família Viverridae. Exala um aroma potente, entre urináceo e adocicado.

     

  • Almíscar: secreção glandular do cervo-almíscar macho (Moschus moschiferus), encontrado na Ásia. Seu cheiro é quente, sensual e cremoso.

     

  • Âmbar cinza: substância cerosa formada no sistema digestivo da baleia cachalote (Physeter macrocephalus) e expelida naturalmente. Confere notas marinhas, salgadas e levemente doces.

Uso moderno das notas animálicas na perfumaria

Com o passar do tempo, a utilização de matérias-primas de origem animal na perfumaria passou a ser amplamente questionada por motivos éticos e ambientais, já que sua extração, muitas vezes, envolvia sofrimento animal e ameaça à biodiversidade. Em resposta a essas preocupações, a indústria desenvolveu alternativas sintéticas sofisticadas, capazes de reproduzir com precisão os aspectos mais marcantes dessas notas, sem causar impactos à fauna.

Substâncias como o muscone (substituto do almíscar natural), a civetona sintética, e versões laboratoriais do castóreo e do âmbar cinza passaram a ser amplamente empregadas, garantindo que as fragrâncias preservassem sua profundidade, sensualidade e fixação, mas de forma ética e segura.

Embora o uso de notas animálicas esteja hoje menos presente na perfumaria comercial — geralmente orientada por tendências mais leves e “limpas” — essas notas têm encontrado renovada valorização na perfumaria de nicho e artística. Nesse universo mais experimental, são usadas com ousadia e intencional provocação, conferindo às criações um toque de animalidade primitiva, sensualidade carnal e realismo corporal.

Essas notas, isoladamente, costumam apresentar um odor forte e pouco agradável ao olfato humano. No entanto, quando utilizadas em quantidades muito pequenas, atuam como potentes realçadores olfativos, intensificando madeiras, resinas e flores opulentas como rosa, jasmim e tuberosa. Essa interação resulta em uma fragrância mais tridimensional e viva, com uma aura que muitos descrevem como cheiro de pele quente, suada ou bronzeada.

Mais do que simplesmente “cheiros fortes”, as notas animálicas funcionam como elementos estruturais essenciais, que proporcionam contraste, profundidade e fixação às composições. Elas têm o poder de transformar perfumes lineares em experiências sensoriais envolventes, evocando emoções profundas que transitam entre o conforto e o desejo, entre a nostalgia e o instinto.

Por isso, quando dizemos que um perfume é animálico ou possui notas animálicas, estamos nos referindo, na maioria dos casos, a compostos sintéticos de estrutura molecular mais pesada. 

Quando usar esse tipo de perfume?

Ideais para noites, eventos especiais, encontros românticos e ocasiões mais formais, esses perfumes possuem uma intensidade marcante e envolvente, com excelente projeção sem se tornarem invasivos. São perfeitos para momentos em que se deseja deixar uma impressão duradoura e sofisticada. Devem ser evitados em ambientes muito quentes, fechados ou durante o dia no verão, pois o calor pode intensificar demais essas notas. No frio, ao contrário, elas se revelam de forma mais elegante e controlada.

Nuances Animálicas nos Perfumes In The Box

Embora a In The Box não utilize ingredientes de origem animal, como civeta ou castóreo, devido a questões éticas e regulatórias, oferecemos alternativas sintéticas que replicam essas notas, proporcionando fragrâncias com aspectos animálicos de forma ética e moderna.

Escrito por Ítalo Pereira – Influencer e expert em perfumaria.